quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Engomadeiras


Carlos Reis
Engomadeiras, 1915
Óleo sobre tela
178 × 120 cm

Museu Nacional da Arte Contemporânea no Chiado
Historial
Adquirido pelo Estado em 1915.

Exposições
Lisboa, 1915, 271; Lisboa, 1942, 43; Lisboa, 1945; Lisboa, 1963, 40; Queluz, 1989 – 1990, 72; Torres Novas, 1993 – 1994, 18; Tóquio, 1999, 92, cor; Lisboa, 2005, 320; Istambul, 2009, 24.

Consagrado paisagista de ar livre e cronista empenhado de costumes rurais portugueses, Carlos Reis realizou uma carreira paralela de retratista que por vezes se confunde com uma pintura de género de temática preferencialmente feminina. Nesta tela, adivinha-se a elegância da proprietária da peça de roupa. O tecido, provavelmente organza, habilmente tratado, é colocado nas mãos da engomadeira, personagem humilde, e subtilmente conjuga as duas esferas sociais.
Carlos Reis capta um momento real, questionando os limites do retrato visualizado e imaginado. Do primeiro poderemos falar se, pela aproximação do registo, especialmente de uma das raparigas (a outra esconde-se na penumbra) observarmos a sinceridade do sorriso e a jovialidade que alivia a dureza da tarefa. Do imaginado, adivinha-se o requinte citadino da mandatária da fina peça de organza, apresentada em transparências escorrentes de brancos. Refira-se a observação do real através do ‘instantâneo fotográfico’ quando, num enquadramento próximo da cena, o artista ‘reflecte’ a sua veracidade, permitindo a passagem da situação anedótica ao motivo artístico. Mas registe-se sobretudo o fulgor levíssimo dos brancos como exercício empenhado de uma mestria académica que ninguém, na sua geração de um naturalismo tardio, soube igualar e que aqui se funde com a memória de um ‘simbolismo verista’, sobretudo no perfil e na postura alongada da engomadeira, que poderá conotar uma influência de Sorolla, de quem Carlos Reis foi amigo.

Maria Aires Silveira

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