quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

À espera dos barcos


João Marques de Oliveira
À espera dos barcos, 1891
Óleo sobre madeira
25,5 × 37,5 cm

Museu Nacional da Arte Contemporânea no Chiado
Historial
Doação de José Relvas em 1920.

Exposições
Luanda, Lourenço Marques, 1948, 26; Lisboa, snba, 1951; Lisboa, MNAC, 1951, 1; Queluz, 1989, 67; S. Paulo, 1996, cor.

O estudo para o quadro que seria pintado no ano seguinte, com o mesmo título, é revelador de uma espontaneidade e síntese que o quadro acabado desconhece. Este confronto permite esclarecer uma duplicidade presente ao longo da pintura oitocentista, quer da parte dos artistas, indecisos entre uma tradição fiel a um virtuosismo académico e um entendimento mais radical de certas categorias pictóricas ainda que apenas intuído, quer da recepção da crítica e do público, profundamente ignorantes e desfasados de uma modernidade à data já ultrapassada.
No estudo está patente uma consciência da superfície do quadro, assumida sobretudo na planificação das figuras e mais marcada no que respeita às do segundo plano. Na água, os valores expressivos da pincelada assumem uma liberdade vizinha do impressionismo. Com estes aspectos, diluídos no quadro acabado, coexiste a pose clássica da rapariga a que a composição triangular confere um equilíbrio estático. Tal facto vem expor o teor restrito da modernidade nacional de oitocentos, apenas experienciada no plano paisagístico, sem soluções ou delas temerosa relativamente à figura. No vértice da composição, o rosto da rapariga estabelece um alheamento do motivo, criando um jogo entre o presente e o ausente que vem inscrever a nostalgia através de uma dimensão lírica como ultrapassagem da ausência de soluções no plano pictórico.

Pedro Lapa

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