quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

A menina das camélias



José Almeida e Silva
Menina das Camélias1912
óleo sobre tela
46 por 36

Museu Grão Vasco

Retrato de menina a três quartos de frente com vestido verde, cabelo castanho parcialmente apanhado, brinco dourado com pedra cor-de-rosa, segurando nas mãos um ramo de camélias vermelhas com manchas brancas e viçosas folhas verdes. A menina apresenta um olhar triste e melancólico solicitando o olhar do observador. Trata-se de uma obra de grande beleza e rigor representativo. A Menina das Camélias revela uma das características mais presentes na obra de Almeida e Silva, uma espécie de serenidade e de imutabilidade, que parece colocar esta jovem, possivelmente nascida com o século, incólume a todas e quaisquer perturbações, mesmo aquelas que eram intensamente vividas no período revolucionário em que a pintura foi executada. A obra apresenta uma paleta densa, em que a figura, quase de frente, em busto, se eleva de um fundo escuro. No rosto da jovem espalha-se uma luz cálida, pontuada com meticulosos detalhes como o tratamento do cabelo, que se adivinha apanhado atrás da cabeça e que cobre parte da orelha, o brilho pontual do brinco, olhos amendoados, bem definidos, uma mirada realista e uma expressão de alguma compenetração, que tanto pode ser de timidez, como apenas o resultado de uma posição estática exigida ao modelo. Num plano ainda mais presente, banhadas de luz intensa, está um copioso bouquet de camélias matizadas de branco e vermelho, que sublinha, e quase rivaliza, com a beleza simples da retratada. Dada a significação de pureza, captada através da singeleza das flores e inocência da personagem retratada, esta é uma das peças mais conhecidas do pintor Almeida e Silva, devendo a sua dimensão icónica à singularidade da composição e à subtileza emotiva, factor pelo qual, os viseenses nutrem uma especial atenção à obra. A representação das camélias é um tema recorrente em Almeida e Silva. Na exposição de arte do Ateneu Comercial do Porto (1890) faz a primeira apresentação deste tema floral, repetindo sucessivamente estudos de naturezas-mortas nesta tipologia sobretudo em 1910, na 3.ª exposição anual da Sociedade de Belas Artes do Porto.

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